terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O luto e a superação

A tragédia com a Chapecoense foi importante para trazer
 de volta ao futebol os valores que haviam se perdido
Foto: Divulgação/Internet
Nos dias que se seguiram neste ano de alguma forma tive contato com a morte. Sim, ela faz parte da vida, embora nunca nos acostumemos com ela. Sendo assim, a morte se fez presente de maneira mais pessoal e também mais coletiva.

Há meses atrás perdi minha avó. Aquela que fazia bolos como ninguém, aquela do feijão que nunca vou esquecer assim como todo o resto de uma pessoa que conheci bem menos do que gostaria. 

Com o futebol vieram as experiências com a morte de maneira mais coletiva. Aquelas em que a gente divide com várias e várias pessoas que sequer conhecíamos. É duro o fato de um clube, de jogadores e principalmente de pessoas que viviam o auge de uma epopeia incrível partir de maneira tão inesperada.

Óbvio que a minha e a sua dor com relação a essa perda em nada se compara a dor que vem sentindo as pessoas intimamente ligadas com as vítimas deste trágico acidente.

Vendo a epopeia da Chapecoense me lembrei quando aqui mesmo no blog contei sobre como a história do Leicester me fez sonhar. Como uma encenação da vida cotidiana, diversas pessoas viram naquele time um retrato de suas batalhas pessoais. Os desafios? Ora, os desafios eram grandes, do tamanho de um Manchester United, de um Arsenal, de um Chelsea.

Infelizmente para a Chapecoense a epopeia teve que parar faltando tão pouco. Dos tempos de dificuldades financeiras a exemplo de gestão, o clube e o time em campo foram vencendo seus desafios, batalhava e no fim comemorava.

Porém, quando chegou ao auge esse time foi mais alto do que eu e você imaginaríamos que eles fossem chegar. Subiu tanto que cada um se tornou uma estrela que irá formar uma constelação que ainda em meio à dor por essa fatalidade não é vista.

No fim de tudo, com o passar do tempo assim como na perda de meus queridos avós ficará aquela saudade boa daquelas que nenhuma palavra poderá explicar. Faz parte do luto superar a dor e seguir em frente. É difícil demais, eu sei, mas é necessário.

Quando esse dia chegar todos contarão com orgulho a história de pessoas que sonharam em vencer os gigantes da América do Sul e venceram. Eles ensinaram que é possível e agora você, incrédulo na vida, se levante e vai lá vencer os seus gigantes também.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Futebol atual, Black Mirror e devaneios na madrugada

O fenômeno das torcidas caladas já sentido na Inglaterra
Foto: Divulgação /Internet
Tudo se torna um produto vendável até o sentimento mais profundo um grande negócio. É a máxima do sistema em que vivemos. Foi assistindo em uma dessas madrugadas ao episódio Fifteen Million Merits da série Black Mirror que fiz uma análise sobre o atual momento que o futebol mundial vive.

Tudo virou um circo vendável em que o mais importante é o dinheiro. Tudo isso utilizando o sentimento mais profundo de quem ama aquele esporte. E o principal fato é que poucos ali estão se importando com o torcedor.

O resultado disso é assustador para quem percebe. A falta de paixão tanto dentro como fora de campo, os palcos assépticos que parecem todos iguaizinhos como uma sala de cinema, as super contratações midiáticas e os times galácticos que impõem goleadas naquele outro cheio de história, mas sem as mesmas condições financeiras.

A competição é o básico de todo esporte, mas tudo mudou nos últimos anos quando um clube junta uma grana sabe se lá da onde e contrata meia dúzia de craques formando um time multinacional. Daí ele vai e vence todos os outros com facilidade. Isso tira o básico de todo esporte.

Sinto muito, mas não consigo achar graça em um jogo que o Barcelona surra de maneira inapelável um time tradicional como o Celtic com uma plateia calada cantando as mesmas canções sem graça. Tudo ali contando com a grana dos inúmeros turistas.

A falta de paixão em boa parte da atmosfera presente nos estádios da  Premier League foi criticada e alardeada por todos. Enquanto a Premier League elogiada pela forma como cresceu afasta seus apaixonados torcedores e traz seus calados consumidores quem perde é o futebol. Tudo virou um grande entretenimento e o futebol vai mais além.

O ‘abaixo o futebol moderno’ é uma bandeira belíssima, mas até essa bandeira está prevista pelo sistema e pode se transformar em um produto. Assim como o personagem principal Bing do episódio de Black Mirror e sua tentativa de gritar contra o sistema em que vive.

Série Black Mirror e sua tentativa de explicar a sociedade atual
Foto: Divulgação/Internet
A pergunta que fica é se seria possível fugir do sistema. Infelizmente acho que não e tenho problemas sérios quando vejo o futebol sendo vendido como um entretenimento barato qualquer.

No fim de tudo alguns não conseguem aguentar viver nesse sistema. E pensando nisso sempre lembro de Kurt Cobain e sua música Rape Me. Uma canção simples e completamente profunda como era o futebol antes de ser esse projeto mal acabado de si mesmo em que vem se transformando. Pelo menos ainda existem lugares onde o futebol resiste, mas até quando?

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Como você enxerga uma partida de futebol?

Vitória brasileira e consagração do trabalho recente de Tite
Foto: Divulgação/Internet
Antes de qualquer coisa esta foi a grande apresentação do Brasil aliando sobretudo o lado tático e técnico. Um complementando o outro como deve ser no futebol. Como por aqui isso ficou esquecido é a pergunta a ser respondida.

O primeiro gol de Coutinho é uma prova clara do trabalho de Tite que trouxe a seleção brasileira para jogar o futebol atual. Já disse um par de vezes aqui no blog que o amante do futebol tem que se livrar das amarras do básico. Sair do senso comum e partir para os diversos pontos de uma partida de futebol dentro e fora do campo.

O velho papinho de o time é ruim porque não tem craque para mim não cola muito. Vide o tratamento que outro dia o time do Newcastle deu a bola para chegar a um de seus gols contra o Ipswich Town. Isso mostra que não se precisa de craques para se colocar uma ideia de jogo que, claro, o grupo de jogadores que estão no time possa produzir. 

E aquela história de a geração é ruim de meses atrás? Chaaaaaaato!!!! Tem aquele da falta de raça tão debatido pelo Brasil afora também. Sério, devemos pensar o futebol de outro modo.

Tento atravessar essa fronteira do senso comum, busco me atualizar e descobrir coisas novas. Quando você se propõe a isso é inegável a abertura de um mundo bastante interessante na forma de contemplar o jogo. Atualmente vejo o futebol com olhos completamente diferentes da época de garoto.

A única coisa em toda essa campanha recente que me impressiona foi à forma como as ideias de Tite foram diluídas de forma rápida entre os jogadores que prontamente foram crescendo de produção ao longo dos jogos.

Já a pobre Argentina passa o drama vivido meses atrás pelo Brasil. Sem dúvidas o Bauza é um técnico melhor que Dunga. A comparação me parece ser insensata, mas cheguei a ver por aí alguns tentando comparar. Contudo, o trabalho do Bauza é tão ruim quanto aquele que ele fez no São Paulo.

Aliás, por ver as opções de técnicos de boa qualidade ficarem raras quando o fraco Tatá Martino saiu foi que Bauza ganhou sua oportunidade pela AFA. O argentino vem de trabalhos bastante inconsistentes e ruins e sua Argentina sem um funcionamento coletivo ideal para acomodar jogadores de nível técnico tão elevado é catastrófica.

Não me sai da cabeça uma jogada em que a Argentina sai com a bola dominada. Quando ela chega a Mascherano ele olha o meio-campo inteiro sem sequer uma opção de passe para continuar o jogo de transição mais rápida proposto pelo Bauza na segunda etapa. Uma situação calamitosa.

Aos poucos Tite vai calando uma a uma as recentes bobagens propagadas por aqui como máximas do futebol. Uma delas é a de que craque não marca, as outras já falei por aqui nesse texto. O que falta é só elas chegarem ao futebol jogado nos nossos times. Espero que isso não demore muito.

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O futebol falado, pensado e arbitrado

Tecnologia poderia ajudar o trio de arbitragem
a resolver o lance com mais facilidade
Foto:Alexandre Cassiano/Agência O Globo
Uma comentada influência externa coloca todo o resultado em xeque. Esse foi o fato de um Flamengo e Fluminense decisivo em muitas questões. Um prato cheio para a imprensa e suas polêmicas sem sentido e torcedores exaltados que não pensam com a cabeça.

Sou extremamente a favor da tecnologia do futebol. Todas as grandes ligas de grandes esportes já a utilizam com sucesso. Não vai atrapalhar em nada o andamento do jogo de futebol até porque apenas no tal lance o árbitro Sandro Meira Ricci e sua turma perderam mais tempo do que se tivessem a tecnologia ao seu lado pra analisar a jogada.

O problema é que a tecnologia precisa ser efetivamente regulamentada e da maneira como aconteceu em Volta Redonda e parece que de fato aconteceu segundo relatos de quem esteve na partida foi uma clara ajuda externa e ilegal ao extremo.

O fato é que o futebol brasileiro é uma grande piada tanto dentro como fora de campo. Ninguém discute futebol por essas bandas. E falando do futebol jogado em campo se percebe que é um campeonato pobre em ideias. Muitos falam que o espanhol é uma liga polarizada e chata, mas ainda que seja e aqui não entro no mérito desta questão é uma liga com times que jogam com ideias de futebol diferentes e interessantes de se ver. Por aqui, não.

Não discuto o fato de tal time jogar um futebol feio ou bonito, outra questão subjetiva que revela a pobreza do futebol jogado e falado por aqui. Sei lá o que é jogar feio ou bonito, sei o que é jogar da melhor maneira com que se tem a disposição no elenco.

Quando ligo a televisão para os ‘debates’ o que se vê é sempre a polêmica da vez, a arbitragem ruim, o time midiático em crise, nas redes sociais é o jornalista na arquibancada, se o jornalista é ou não torcedor do flamengo. Um saco!!!!

Flamengo leva os três pontos, mas o que estará na sua
televisão será a arbitragem
Foto: Alexandre Cassiano/ Agência O Globo
Discutir futebol no Brasil é preciso, mas são poucos os que faziam isso nas mídias de maior alcance. A ESPN era uma delas, mas infelizmente nos últimos anos vejo mesmo é a morte de um canal que propunha discutir o esporte em todos os seus aspectos. Agora se firmou como mais um canal blasé, de alguns comentaristas que não compreendem o jogo em nenhum aspecto. Claro que aqui tiro alguns jornalistas.

Voltando ao campo a arbitragem sempre vem errando, errando, errando e errando. É necessário pensar em sua profissionalização, uma mudança clara que provoque um melhora nas seguidas atuações do trio do apito pelo Brasil. Do contrário é sempre aquilo, o velho filme se repete, acontece o erro, o dirigente vai a imprensa esbravejando, a imprensa ganha uns cliques com as palavras do dirigente esbaforido e a vida no futebol brasileiro segue sua condição de penúria.


Ahhh, e não se esqueça do pobre blogueiro que está inserido nesse circo! Sou uma personagem que está prevista no sistema comandado por poucos no futebol brasileiro. Estou na Matrix e sei disso. Lembrou do filme? Meu comportamento é previsto no sistema, pois observo a situação, comento ela, mas não tenho força para mudar nada e por isso me sinto um completo estúpido fazendo parte do velho círculo vicioso do pobre futebol brasileiro. 

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O torcedor e a exclusividade forçada

Exclusividade é péssima para o torcedor.
Foto: Divulgação
Certo dia estava eu indo comprar um refrigerante para o almoço, antes que me pergunte, sim, sou viciado em uma coca- cola. Pois bem, enquanto caminhava encontrei uma figura típica da minha rua: o seu Zé. Ele está sempre na esquina trajando sua camisa do Flamengo com orgulho.

Nem preciso dizer que o Seu Zé é um fanático antigo pelo time carioca. Ele já deve ter seus 70 e tantos anos e foi daqueles que chegou a acompanhar o time carioca pelo rádio e se apaixonou pelo clube. Nesse dia, o senhor baixinho, magro e de cabelos grisalhos puxou papo comigo.

Perguntei a ele qual era a transmissão de domingo na Globo e ele me respondeu chateado:  “Ah, é um jogo do Botafogo”.  Falei para ele da TV fechada e do canal Premiere. Essa era uma chance de nunca perder os jogos do Flamengo, mas embora ele soubesse que existia a possibilidade não tinha condições de gastar com o que tinha.

O seu Zé me disse que o que restava era ver o jogo do Botafogo ou ir procurar aquele barzinho, mas nem sempre dá para sair assim. Pois bem, trouxe o seu Zé aqui pelo que ele representa, ou seja, o lado mais fraco do grande negócio que se transformou o futebol.

No ano passado, o Esporte Interativo entrou com força total e levou para seus canais a Champions League. Pouco tempo atrás, a ESPN anunciou a exclusividade de uma das ligas europeias mais assistidas no Brasil. Contudo, por mais que as emissoras veiculem vantagens e mais vantagens sobre a exclusividade de bom mesmo para o torcedor esse tipo de prática não tem nada.

A Champions League é uma prova disso. Se antes o torcedor tinha os canais da ESPN e os antigos canais de esporte da própria Sky (para quem é assinante da Sky, lógico) o torcedor tinha opção de uma boa gama de jogos por rodada. A chegada do Esporte Interativo significou também a dificuldade de a emissora entrar nas grades das operadoras de televisão fechada por um bom tempo. 

Somente agora os canais entraram no ar pela últimas operadoras que faltavam. Contudo, se o torcedor quiser o cardápio de partidas da rodada completa terá que pagar uma quantia a mais pelo EI Plus. De um total de oito jogos em uma rodada apenas dois são transmitidos em TV fechada e um em TV aberta. Anteriormente, o torcedor tinha mais jogos a disposição na TV fechada e nessa análise não estou falando do trabalho do canal Esporte Interativo que tem sido excelente.

O leitor vai me retrucar sobre o EI Plus: Ahhh, mas não é mais que R$ 3, meu filho!. Pois é, mas em vista de uma pessoa que paga mais de R$ 100 para ter condição de desfrutar de uma TV fechada um pouco decente e se você levar em conta o trabalhador que tira um salário mínimo, lembra do seu Zé. Aí, nesses casos não sei se vale a pena.

A exclusividade no país revela a força
da emissora global que reina no futebol brasileiro
Foto: Divulgação 
A exclusividade da Premier League pela ESPN tem apostado na plataforma Watch ESPN. Aqui a perda é significativamente maior se você comparar com a situação da UCL que ficou meses sumida dos televisores brasileiros. Óbvio, no caso da UCL, ainda tinha a Bandeirantes que transmite pela TV aberta, mas falo para quem não é seguidor do Barcelona e do Real Madrid. A emissora só foca nos dois espanhóis e o campeonato não se restringe aos dois como mostra a emissora paulista. Acho errado, mas o que importa é a audiência e a empresa pelo lado dela não deve estar errada.

Voltando a Premier League se você tomar por base que o torcedor tinha a possibilidade de acompanhar jogos do inglesão em praticamente cinco canais juntando os três da ESPN e os dois da Fox Sports com transmissão em português (ok, muitas transmissões são ruins, principalmente, os da Fox).Por vezes, uma rodada inteira era transmitida na TV fechada. Mas vendo isso, você toma por base que quem perde é o torcedor.

O Watch ESPN é uma plataforma interessante, mas streaming de vídeo precisa necessariamente de uma internet com alguma qualidade, sem limitação e isso não é realidade da maior parte dos brasileiros. Imagine agora o seu Zé, apesar de ele sabe dizer que sabe muito de informática.

Isso sem falar e voltando ao Brasil na exclusividade descarada da TV Globo em relação ao Brasileirão. Ou o torcedor assiste o que a emissora quer ou vai gastar mais um pouco com o Premiere Futebol Clube. Nem é necessário dizer que a Série B e A são pacotes separados. Como isso acontece de maneira descarada no país é a maior prova da força da emissora e da fraqueza de nossos legisladores.

A exclusividade em todos os setores do mercado é prejudicial ao consumidor. O torcedor deveria ser o mais beneficiado, mas acaba sempre perdendo, sempre tendo que desembolsar um pouquinho a mais. Não me venha falar que os pacotes, planos são baratos, pois estou falando do seu Zé, do fanático pelo Flamengo, Fluminense, Corinthians que não tem condições de desembolsar um centavo a mais pelo EI Plus da vida, os Premieres, Watch ESPN.

O fato mesmo é que o futebol está virando um negócio para quem pode pagar por ele, mas o problema é que infelizmente são bem poucos. Precisa existir, principalmente no Brasil um debate sobre a forma como é transmitido o esporte. As coisas não podem continuar como estão, mas vão e os seus Zé da vida ficam esquecidos. 

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Os recados de Guardiola

Guardiola e seus recados ao longo da carreira
Foto: Divulgação
Que Guardiola é um dos melhores técnicos do futebol mundial é falar ou no caso escrever mais do mesmo. Após o trabalho fenomenal com o Barcelona, o técnico não ficou na mesmice e vai se reinventando ao longo do tempo. De gênio forte, o espanhol bate de frente com quem for para defender suas ideias de futebol.

O último desses confrontos é a situação de Joe Hart. Goleiro importante nas conquistas recentes do Manchester City tem inegável popularidade com a torcida que o tem como um ídolo. Pois bem, Guardiola chegou ao clube e uma das primeiras ações foi colocar o goleiro inglês no banco.  Esse foi mais um dos recados do espanhol.

Hart é titular da seleção inglesa, um ótimo goleiro, mas um dos seus pontos fracos é justamente o jogo com os pés. Para que as ideias de futebol do Guardiola funcionem o técnico precisa de um goleiro que possa sair para o jogo com os pés. É fundamental algo como fazia Manuel Neuer no seu Bayern. Lembrando que goleiro alemão se transformou também em uma espécie de líbero principalmente com o espanhol no comando do clube bávaro que o fez melhorar com a bola nos pés.

A chegada de Claudio Bravo ao City é a prova de que Hart mesmo com apoio total da torcida irá ficar no banco ou talvez até sair do clube. Mais uma vez para defender suas ideias, Guardiola bateu de frente com quem fosse para mostrar e fazer aquilo que queria. Esse foi um recado ao goleiro inglês. Ele precisa melhorar como goleiro e isso passa pelo fato de saber jogar com os pés.

E o técnico espanhol ao longo de sua carreira vai fazendo isso. Alguém lembra a goleada do Barcelona sobre o Santos no Mundialito da FIFA e as respostas embasadas logo após o jogo na coletiva com repórteres? Fã confesso da outrora forma de jogar da seleção brasileira foi logo se apressando a comentar que o Barcelona jogou naquela final era o futebol que se jogava no futebol brasileiro no passado.

Aquela goleada e a forma avassaladora até mais interessada do que realmente acontece quando os clubes europeus chegam a uma final de “mundial de clubes” foi um recado claro ao futebol brasileiro. E já faz cinco anos e ninguém aqui ainda entendeu o recado.

Já no Bayern, Guardiola foi capaz de dar outro recado só que este ao futebol alemão. O projeto de futebol germânico já rende resultados fantásticos e novos modos de enxergar a modalidade dentro do país. Contudo, mesmo com a excelência, o espanhol ainda levantou uma questão para o futebol alemão.

Quando chegou ao Bayern já se apressou em trazer Douglas Costa. Os motivos: precisa de um jogador jovem, forte, rápido e habilidoso que tivesse versatilidade. Capaz de no um contra um quebrar uma defesa bem organizada. Um jogador que pudesse suprir principalmente a ausência de Ribery que vinha de longos problemas físicos.

Com isso passou seu recado ao futebol alemão. Por mais que já tenho revelado muitos jovens de qualidade, os germânicos ainda não produzem esse tipo de jogador. Um jogador com capacidades que são o forte de Douglas Costa. O Brasil ainda produz bastante deste tipo de jogador.

Óbvio que o espanhol não é o rei das verdades, ninguém é, mas é inegável que Guardiola é uma referência e como referência merece ser ouvida. Seus recados estão aí para quem quiser pegar no ar e fazer bom proveito delas.


sábado, 20 de agosto de 2016

E agora?

Filosofia de jogo. Isso ficou na minha cabeça
na final olímpica de futebol
Foto: Divulgação 
O tão sonhado ouro olímpico enfim aconteceu para o Brasil. Do massacre coletivo exagerado de imprensa e torcida após os empates com África do Sul e Irã, as vitórias contra as frágeis Dinamarca e Honduras passando pela pancadaria contra a Colômbia e a vitória sofrida contra a Alemanha. Não exatamente na ordem. Depois de tudo e agora?

A conquista deve ser comemorada, mas extremamente relativizada. Primeiro porque o Brasil era favorito pelo time que montou e depois ninguém, mas ninguém deu tamanha importância ao fraco torneio de futebol olímpico do que o próprio.

Para a CBF, a medalha é tudo o que sonhava os dirigentes. Agora eles terão o inédito título olímpico nas mãos para responder a qualquer um que criticar o modelo de gestão (se é que existe modelo de gestão) no futebol brasileiro.

Dentro de campo a vitória fará para com que Micale tenha suas ideias propagadas pelo atrasado futebol brasileiro. Isso é bom. Tive a oportunidade de ver isso na seleção vice-campeã do Mundial Sub-20 e em alguns poucos momentos nesta seleção olímpica. Natural que no país do resultado a derrota seria o de mais um descarte de trabalho nas divisões de base. Para Micale mais do que qualquer outro seria extremamente injusto.

Contudo, não entremos na onda de ‘O campeão voltou’. A comemoração vale para a torcida, mas não para quem deve pensar nos rumos do futebol brasileiro. Perder e ganhar é do jogo e mesmo com a derrota o que vi foi o total apogeu do projeto alemão de futebol propagado por muitos.

Horst Hrubesch faz parte desta filosofia de jogo
nas categorias de base da Alemanha
Foto: Divulgação
O futebol teve mudanças abruptas. Não basta apenas o craque, o talento. As equipes que ganham não são mais essas. A união do coletivo com o talento é primordial, mas se você tiver uma equipe minimamente organizada coletivamente trará problemas para outros times. O Brasil montou o seu time com o melhor que podia com a inclusão luxuosa de um dos melhores craques do futebol mundial, Neymar. Gente graúda e alguns dos propagados futuros craques como o Gabriel Jesus.

A Alemanha não. Hrubesch teve que chamar o que pôde e com isso veio até o surpreendente Nils Petersen do Freiburg. É um time formado por uma garotada do Leverkusen, RB Leipzig, do Hoffenheim, Schalke 04, Borussia Dortmund, Karlsruher, Ingolstadt e por aí vai.

Todos os que jogaram a Eurocopa ficaram de fora e isso vale para os melhores do sub-23 como Jonathan Tah do Leverkusen, Kimmich do Bayern Munique, Weigl do Dortmund, Emre Can, Draxler, Sané, Niklas Stark, Mahmoud Dahou.

Muitos desses jovens que estiveram no Maracanã não irão vestir a camisa da seleção principal, mas sabem jogar o futebol de passe e movimentação que são modelos do atual futebol alemão. Veja o gol de Meyer e tenha um exemplo prático. Foi colocado em prática o que foi aprendido desde cedo e o time brasileiro que tinha mais talento e era favorito pelo jogadores teve dificuldades, bastante dificuldades. A diferença é grande entre os dois no sentido de existir uma filosofia de jogo e isso foi o que ficou na minha cabeça.

Em longo prazo não se tem projeto de futebol aqui. Enquanto na DFB existe trabalho em todas as categorias de base com foco na seleção principal, a total bagunça que é o futebol brasileiro ficou evidenciada hoje.


Enquanto todos viam a final da seleção olímpica que em diversos momentos era subjugada pela garotada alemã, uma equipe como o Vasco jogava para pouco mais de 7 mil pessoas pelo returno da segunda divisão. De uma sensibilidade enorme da CBF colocar alguns jogos praticamente no mesmo horário. Fora os outras partidas da Série B e Série A que poucos viram. 

Uma coisa que não entendo é como os clubes brasileiros se submetem a isso e infelizmente conhecendo este país a medalha transformará tudo no futebol brasileiro a coisa mais linda que não é nem de longe. Eu sei que o futebol alemão tem um modelo a seguir que trará outras taças, mas para o futebol brasileiro não sei. E agora?