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Exclusividade é péssima para o torcedor.
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Certo dia estava eu indo comprar um refrigerante para o
almoço, antes que me pergunte, sim, sou viciado em uma coca- cola. Pois bem,
enquanto caminhava encontrei uma figura típica da minha rua: o seu Zé. Ele está
sempre na esquina trajando sua camisa do Flamengo com orgulho.
Nem preciso dizer que o Seu Zé é um fanático antigo pelo time
carioca. Ele já deve ter seus 70 e tantos anos e foi daqueles que chegou a
acompanhar o time carioca pelo rádio e se apaixonou pelo clube. Nesse dia, o senhor
baixinho, magro e de cabelos grisalhos puxou papo comigo.
Perguntei a ele qual era a transmissão de domingo na Globo e
ele me respondeu chateado: “Ah, é um jogo
do Botafogo”. Falei para ele da TV fechada
e do canal Premiere. Essa era uma chance de nunca perder os jogos do Flamengo,
mas embora ele soubesse que existia a possibilidade não tinha condições de gastar
com o que tinha.
O seu Zé me disse que o que restava era ver o jogo do Botafogo
ou ir procurar aquele barzinho, mas nem sempre dá para sair assim. Pois bem,
trouxe o seu Zé aqui pelo que ele representa, ou seja, o lado mais fraco do
grande negócio que se transformou o futebol.
No ano passado, o Esporte Interativo entrou com força total
e levou para seus canais a Champions League. Pouco tempo atrás, a ESPN anunciou
a exclusividade de uma das ligas europeias mais assistidas no Brasil. Contudo,
por mais que as emissoras veiculem vantagens e mais vantagens sobre a exclusividade
de bom mesmo para o torcedor esse tipo de prática não tem nada.
A Champions League é uma prova disso. Se antes o torcedor
tinha os canais da ESPN e os antigos canais de esporte da própria Sky (para quem é assinante da Sky, lógico) o torcedor
tinha opção de uma boa gama de jogos por rodada. A chegada do Esporte Interativo
significou também a dificuldade de a emissora entrar nas grades das operadoras
de televisão fechada por um bom tempo.
Somente agora os canais entraram no ar pela
últimas operadoras que faltavam. Contudo, se o torcedor quiser o cardápio de
partidas da rodada completa terá que pagar uma quantia a mais pelo EI Plus. De um
total de oito jogos em uma rodada apenas dois são transmitidos em TV fechada e
um em TV aberta. Anteriormente, o torcedor tinha mais jogos a
disposição na TV fechada e nessa análise não estou falando do trabalho do canal Esporte Interativo que tem sido excelente.
O leitor vai me retrucar sobre o EI Plus: Ahhh, mas não é
mais que R$ 3, meu filho!. Pois é, mas em vista de uma pessoa que paga mais de R$
100 para ter condição de desfrutar de uma TV fechada um pouco decente e se você
levar em conta o trabalhador que tira um salário mínimo, lembra do seu Zé. Aí,
nesses casos não sei se vale a pena.
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A exclusividade no país revela a força
da emissora global que reina no futebol brasileiro
Foto: Divulgação |
A exclusividade da Premier League pela ESPN tem apostado na
plataforma Watch ESPN. Aqui a perda é significativamente maior se você
comparar com a situação da UCL que ficou meses sumida dos televisores
brasileiros. Óbvio, no caso da UCL, ainda tinha a Bandeirantes que transmite pela TV aberta, mas falo
para quem não é seguidor do Barcelona e do Real Madrid. A emissora só foca nos
dois espanhóis e o campeonato não se restringe aos dois como mostra a emissora
paulista. Acho errado, mas o que importa é a audiência e a empresa pelo lado
dela não deve estar errada.
Voltando a Premier League se você tomar por base que o torcedor
tinha a possibilidade de acompanhar jogos do inglesão em praticamente cinco canais juntando
os três da ESPN e os dois da Fox Sports com transmissão em português (ok,
muitas transmissões são ruins, principalmente, os da Fox).Por vezes, uma rodada
inteira era transmitida na TV fechada. Mas vendo isso, você toma por base que
quem perde é o torcedor.
O Watch ESPN é uma plataforma interessante, mas streaming de
vídeo precisa necessariamente de uma internet com alguma qualidade, sem
limitação e isso não é realidade da maior parte dos brasileiros. Imagine agora
o seu Zé, apesar de ele sabe dizer que sabe muito de informática.
Isso sem falar e voltando ao Brasil na exclusividade
descarada da TV Globo em relação ao Brasileirão. Ou o torcedor assiste o que a
emissora quer ou vai gastar mais um pouco com o Premiere Futebol Clube. Nem é necessário
dizer que a Série B e A são pacotes separados. Como isso acontece de maneira
descarada no país é a maior prova da força da emissora e da fraqueza de nossos
legisladores.
A exclusividade em todos os setores do mercado é prejudicial
ao consumidor. O torcedor deveria ser o mais beneficiado, mas acaba sempre
perdendo, sempre tendo que desembolsar um pouquinho a mais. Não me venha falar que os pacotes, planos são baratos,
pois estou falando do seu Zé, do fanático pelo Flamengo, Fluminense, Corinthians
que não tem condições de desembolsar um centavo a mais pelo EI Plus da vida, os
Premieres, Watch ESPN.
O fato mesmo é que o futebol está virando um negócio para
quem pode pagar por ele, mas o problema é que infelizmente são bem poucos.
Precisa existir, principalmente no Brasil um debate sobre a forma como é
transmitido o esporte. As coisas não podem continuar como estão, mas vão e os seus Zé da vida ficam esquecidos.